Um dia virei do nevoeiro

sábado, abril 07, 2007


Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha as pedras da rua,ri,
porque o teu riso será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no Outono,
teu riso deve erguer sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,quero teu riso como
a flor que esperava,a flor azul, a rosada minha pátria sonora.

Ri-te da noite,do dia, da lua,
ri-te das ruas tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro rapaz que te ama,
mas quando abro os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,

nega-me o pão, o ar,a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,porque então morreria.

Pablo Neruda

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